Para os estudantes que se candidataram ao ensino superior no ano letivo 2023/2024, uma nova fase se inicia. Segundo os dados divulgados pelo Governo, quase 50 mil alunos garantiram a sua entrada no ensino superior na primeira fase de candidatura. Para estes, a maior batalha poderá não ser com os livros, porque, antes disso, vem a guerra para encontrar um quarto para ficar.
Tomás Fernandes, de 17 anos, Catarina Marçal, de 18, e Maria Torres, de 19, vão iniciar a sua vida académica este ano letivo. Tomás, natural de Mangualde (Viseu), e Catarina, que vive, por sua vez, em Sines (Setúbal), ficaram colocados em Coimbra: ele na Faculdade de Letras, para seguir História; ela na Faculdade de Ciências e Tecnologias, para se dedicar à Biologia. Já a lisboeta Maria tem um destino diferente: Faro. Entrou em Imagem Animada, na Universidade do Algarve.
Falta apresentar uma protagonista, que, apesar de já ser experiente nestas andanças, pois já completou a licenciatura e, como tal, não faz parte dos 50 mil caloiros, entrou no Mestrado em Gestão, na Nova School of Business and Economics, em Carcavelos. Falamos de Mafalda Pereira, de 22 anos, que é natural das Caldas da Rainha (Leiria).
O que os une a todos? Além de estarem prestes a iniciar uma nova fase da vida, vão estar fora das suas cidades e, como tal, precisaram, ou ainda precisam, de arranjar um quarto, ou um apartamento, na zona onde ficaram colocados. Se foi, ou está a ser, uma tarefa fácil? Nem por isso.
Saíram de manhã de Mangualde, estacionaram o carro em Coimbra e passaram o dia todo, de porta em porta, pelas ruas da “cidade dos estudantes”, à procura de sítio para Tomás ficar. “Tivemos imensas dificuldades, porque havia falta de oferta. Havia apartamentos muito dispendiosos, incomportáveis para um orçamento familiar médio”, confessou a mãe de Tomás. Ao longo da sua missão, depararam-se com quartos a, no mínimo, 250 euros. No entanto, a grande maioria não era arrendada por menos de 300. Já no que a estúdios ou a T1 diz respeito, chegavam a atingir os 500 euros de renda.
A realidade encontrada por Tomás e os seus pais é a mesma que a família de Catarina encontrou: preços elevados e pouca oferta para a quantidade de procura. “Além dos preços, que foram uma desagradável surpresa, pois os quartos estavam, pelo menos, a 400 euros, apercebi-me que muitos dos quartos e dos estúdios já estavam reservados”, explicou Maria Marçal, mãe de Catarina. “Havia estúdios, com 20/30 metros quadrados, a 600 euros”, continuou, assumindo que é um abuso estarem a ser praticados valores tão elevados, visto que os estudantes acabam por ter também outras despesas como, por exemplo, alimentação.
Num “golpe de sorte”, Catarina acabou por arrendar um T1, por 450 euros, que vai partilhar com o namorado, que também ficou colocado em Coimbra. Este achado, apesar de parecer barato para dois, tem apenas 30 metros quadrados. Vendo bem as coisas, não é assim tão acessível. A jovem de Sines terá de apanhar, todos os dias, o autocarro para a faculdade, que fica a meia hora da sua nova casa. Apesar de se ter candidatado para uma das vagas na residência de estudantes da universidade, os resultados ainda não saíram e, por isso, preferiu jogar pelo seguro e garantir um espaço para ficar.
A mesma sorte acabou por ter Tomás que, depois de falar com muitas pessoas e contactar outras tantas, conseguiu arranjar um T1, “pequeno e jeitosinho”, segundo a mãe, por 350 euros, a cerca de 600 metros da faculdade. Por isso, com transportes não terá de se preocupar.
Muda a geografia, mantêm-se os problemas. Bem pode dizer Mafalda, que, em Carcavelos, depois de muitas tentativas, conseguiu encontrar, através de um contacto pessoal, uma casa perto da faculdade (20 minutos a pé), por 750 euros, a dividir por ela e por uma amiga. No entanto, já está à procura de uma nova solução, porque a casa não se encontra nas melhores condições. Segundo a caldense, é uma busca impossível, pois as plataformas imobiliárias não têm ofertas a preços acessíveis e os anúncios que existem a bons preços, muitas vezes, são tentativas de burlas. Mafalda apontou, assim, algumas dificuldades: “muito pouca oferta e toda a oferta que há está a preços ridiculamente altos, e as casas nem estão em grandes condições, não são modernas. Como é que é suposto um estudante, que já paga bastante para frequentar um mestrado, conseguir ainda pagar estes valores de renda?”. Malfada chegou a encontrar, em Carcavelos, casas a 950/1000 euros.
Por último, em terras algarvias, Maria garantiu que o problema não é tanto a oferta, mas, mais uma vez, os preços, que vão dos 300 aos 800 euros naquela região. E, para além de serem exorbitantes e pesarem no orçamento de qualquer família, a grande maioria não incluí despesas de água, luz, internet ou eletricidade, por exemplo. Quer apenas que haja mais soluções para os jovens. “Visto que vou estar longe da minha cidade, num sítio novo, durante três anos, acho que deveria haver mais apoio e oportunidades para os jovens universitários como eu”, afirmou a jovem.
Até à data de publicação desta reportagem, Maria ainda não tinha encontrado um “cantinho” para ficar. Estava à espera que saíssem os resultados das candidaturas ao alojamento de estudantes da universidade e às bolsas de apoio, e estava em conversações por um quarto que lhe ficaria a 300 euros, com tudo incluído.
A procura por um lugar para morar, durante os três anos de curso, pode ser desgastante e com vários obstáculos pelo caminho. Por isso, e de forma a facilitar o processo, existem alguns conselhos que podem ser seguidos.
A DECO PROTeste dá dicas importantes para um estudante deslocado que esteja a procurar um alojamento. Saiba que existem bolsas de apoio e apoios sociais para os universitários. O Observatório Digital do Alojamento Estudantil é uma boa ajuda na procura por casa, com indicação dos preços praticados e dos quartos disponíveis.
Cada um dos estudantes contactados pela PROTESTE CASA deixou também algumas dicas. Por exemplo, Catarina Marçal e a sua mãe aconselharam a que os estudantes falem com as faculdades e as associações de estudantes que, regra geral, apoiam na procura e têm contactos que podem ser úteis. Existem vários proprietários que pedem para afixar o anúncio dos quartos ou apartamentos nas faculdades.
O mesmo conselho acabou por dar Tomás e a sua família, acrescentando que “entrar em estabelecimentos e perguntar aos proprietários se conhecem alguém que tenha um espaço para alugar” é uma boa ideia, porque, por vezes, os proprietários optam por não divulgar em plataformas ou redes sociais. A resiliência e não baixar os braços são ingredientes para o sucesso desta missão que é encontrar um lugar para morar.
Já Mafalda recomendou a pesquisa intensiva em várias plataformas imobiliárias e considera que, neste momento, “é mais inteligente juntarem-se, para partilhar casa, do que procurar um quarto individual, pois, se compararmos os preços de uma casa a dividir e de um quarto, a primeira solução compensa mais”. Por último, como é um mercado muito competitivo, principalmente em setembro (altura das colocações e das candidaturas), “é melhor agarrar uma boa oportunidade do que ficar indeciso e tentar encontrar uma ainda melhor, pois arriscam-se a ficar sem casa”, aconselhou a jovem das Caldas da Rainha.
Como é possível um jovem universitário suportar, para além das propinas, rendas tão elevadas por um quarto ou um apartamento que, por vezes, nem grandes condições têm? Tomás, Catarina, Maria e Mafalda são os rostos de mais um dos problemas da habitação em Portugal.