A divisão efetiva de tarefas em casa e de cuidados dos filhos é fundamental para uma maior justiça na distribuição de papéis entre mulheres e homens em casa. No Dia Internacional da Mulher, Sandra Ribeiro, presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), defende que a promoção da igualdade deve ser feita desde a escola. Só assim, garante, as mulheres serão mais felizes, "mas também os homens".
Os dados de que dispomos mostram-nos que sim. Em média, as mulheres fazem mais duas horas por dia de trabalho doméstico e de cuidado do que os homens. E essa diferença aumenta ao fim de semana.
As alterações legislativas ocorreram no regime de licenças parentais, promovendo uma maior partilha das mesmas por mães e pais. Ocorreram no código do trabalho, com medidas de apoio à conciliação entre vida profissional e vida familiar e pessoal, como o direito a trabalho em horário flexível ou teletrabalho para quem tem filhos/as pequenos/as.
O que acontece é que, se formos ver os dados, constatamos que quem usa mais esses mecanismos de conciliação são as mulheres e não os homens. Dessa forma, muitas vezes estamos a perpetuar as diferenças de género no mercado de trabalho.
Precisamos mesmo de uma mudança de paradigma. O homem tem mesmo de partilhar com as mulheres as tarefas domésticas e de cuidado, e estas têm de permitir essa partilha. Não é os homens ajudarem as mulheres, porque isso é partir da premissa errada de que cabe às mulheres as tarefas de cuidar da casa e dos filhos. É mesmo assumir que são tarefas sem sexo, que ambos têm de partilhar. Só assim haverá mais igualdade entre mulheres e homens.
As mulheres trabalham tanto com os homens fora de casa. Somos o país da Europa em que as mulheres trabalham mais a tempo completo. A diferença entre homens e mulheres que trabalham a tempo completo no nosso país é praticamente irrisória. Mas, depois, a diferença de horas que uns e outros consomem em limpezas domésticas e a cuidar dos filhos é abissal. Portanto, esta divisão está muito desequilibrada em desfavor das mulheres.
Elas, atualmente, têm efetivamente, na generalidade das situações, uma carga dupla de trabalho, pago e não pago, às costas, que lhes prejudica, muitas vezes, a progressão na carreira. As políticas públicas são o instrumento fundamental, nomeadamente através da formação e capacitação de docentes e não docentes e dos mais jovens.
Educar para a igualdade creio ser a melhor solução. Educar para a partilha das tarefas domésticas. Educar explicando que não há funções para as mulheres e funções para os homens, todos e todas podem fazer as mesmas coisas.
Cuidar dos filhos não é algo que as mulheres saibam fazer de forma inata. Aprendem, tal como os homens podem aprender.
Certamente, todos os estudos que já foram feitos neste âmbito apontam para o facto de as mulheres deixarem de ascender no mercado de trabalho quando começam a ter filhos, normalmente para os homens acontece ao contrário. Uma mulher em idade fértil ou com filhos é vista como uma trabalhadora de risco, como uma trabalhadora que a qualquer altura tem de faltar ao trabalho para ficar a tomar conta de crianças doentes, que tem pouca disponibilidade para fazer trabalho suplementar, que tem menos disponibilidade para o trabalho.
E é verdade. Se essa trabalhadora mãe tem uma partilha desequilibrada das tarefas domésticas e de cuidado com o outro progenitor, obviamente vai ter menos disponibilidade para o trabalho. É uma das causas das diferenças salariais e da dificuldade de acesso a cargos de direção pelas mulheres. Novamente, educar para a igualdade desde os níveis escolares mais iniciais e disponibilizar respostas de apoio à infância a preços aceitáveis, são bons mecanismos para tentar equilibrar a repartição de tarefas entre homens e mulheres.
Algumas sim, outras estão certamente exaustas, tentando fazer tudo ao mesmo tempo, ser ótimas mães e excelentes no trabalho, cheias de culpa por não darem mais atenção aos seus filhos e de não se esforçarem mais profissionalmente.
Sem equilíbrio na partilha das tarefas domésticas e no cuidado das crianças, doentes e idosos, as mulheres, principalmente aquelas que não têm meios económicos para pagar a alguém que as ajude nessas tarefas, têm uma vida dura. É mesmo preciso melhorar os índices de partilha das tarefas domésticas. De certeza que não serão só as mulheres a ficar mais felizes, mas também os homens.
Conheça ainda o trio de líderes femininas que conduzem a DECO PROteste Casa, que apresentámos no Dia da Mulher em 2023.